Páginas

terça-feira, 16 de outubro de 2007

TROPA DE ELITE


Brasília – Assim como os americanos tinham, na Segunda Guerra Mundial, o Capitão América & Buck, nós brasileiros temos agora, na guerra contra os traficantes e seus mantenedores, o Capitão Nascimento & Tenente Matias.
Foi com essa impressão que saí do cinema no fim-de-semana ao ver o recém-estreado em Brasília “Tropa de Elite”, um filme que nos dá um choque de crueza, realidade e brasilidade. O Capitão Nascimento é implacável com os traficantes e policiais corruptos, ao mesmo tempo em que é delicado na troca de fraldas de seu bebê recém-nascido.
O Tenente Matias, negro, é o tapa na cara dos hipócritas da ONG que tem convivência subserviente e cúmplice com os traficantes e é um chute no estômago dos traficantes universitários e de classe média, que fazem passeatas vestidos de branco, pedindo paz, mas são os que mantêm o tráfico e dão o dinheiro que compra armas e mata.
O filme é muito bem feito, tanto que não precisa da apelação a cenas de sexo, tão comuns nas produções brasileiras e não cede à covardia dos produtores que, com medo da idiotice intelectualóide, apresenta o bandido como herói bonzinho e a polícia como algoz.
Em “Tropa de Elite”, bandido é bandido e polícia é polícia. A Justiça nem aparece nos morros, como na vida real. O filme mostra a banda podre da polícia corrupta, e também a banda podre da sociedade, que sustenta o crime com seu vício e se esconde na filosofia desgastada que sataniza a polícia e dá desculpas sociais para o crime.
Com isso, essa sociedade justifica a existência dos seus fornecedores de droga e finge que não é o seu dinheiro que sustenta a bandidagem do tráfico. O filme se passa no Rio, e é o retrato de qualquer grande cidade brasileira.
A “Veja” desta semana decidiu fazer do filme sua reportagem de capa, tal a importância de “Tropa de Elite”. Pesquisa encomendada pela revista ao Instituto Vox Populi, mostra que 94% dos que viram o filme gostaram dele.
Na pesquisa, há uma pergunta que se refere a uma cena, na favela, em que, diante de um traficante morto, o Capitão Nascimento pergunta mais ou menos assim a um universitário da zona sul do Rio, que subira o morro para comprar droga: “Você sabe quem matou? Foi você, seu m...; foi a sua droga que sustentou esse traficante; foi a sua droga que deu dinheiro para comprar esse fuzil que atirava em nós”.
A pesquisa mostra que 85% das pessoas concordam com a afirmação do Capitão. Como eu, 53% julgam o Capitão um herói. Quando o filme terminou, aplaudi e fiquei desejando que houvesse 500 capitães como ele nas polícias brasileiras. Duro, com falhas humanas, mas necessário.
Segundo a “Veja”, estima-se que mais de 11 milhões de pessoas já viram o filme em cópias ou downloads piratas. Fico imaginando se essas pessoas não se sentiram retratadas no filme, quando o tenente Matias interrompe uma passeata pedindo paz, na zona sul do Rio e acusa seus participantes de sustentar o tráfico e o crime.
A cena serve para esses 11 milhões que sustentam piratas, que podemos chamar de eleitores honorários de Renan Calheiros; todos sem moral para falar mal de políticos corruptos. Todos ladrões do trabalho do diretor do filme, dos produtores, dos artistas, dos câmeras, dos iluminadores, dos editores.
Não lamentei, no filme, a morte de bandidos ou seus cúmplices-zona-sul de uma ONG, mas chorei no sepultamento do tenente Neto, um policial honesto que foi assassinado quando entregava um par de óculos a um menino favelado que não rendia na escola porque enxergava mal.
Significativamente, no enterro, o Capitão Nascimento desfralda a bandeira do BOPE e a põe por cima da bandeira nacional, que cobre o caixão. Como a sociedade e as instituições brasileiras falharam, o BOPE tem que fazer o serviço sujo.
Alexandre Garcia